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Vacinas… uma dádiva!

Diversos grupos que se opõem à vacinação ganharam voz, espalhando desinformação acerca da segurança e eficácia das vacinas, levando muitas pessoas a questionar a pertinência das mesmas.

29 novembro 2017 > 16:20

Uma das descobertas com maior impacto na Saúde Pública e na sobrevivência da Humanidade foi a descoberta das vacinas. Sem elas, provavelmente eu não teria escrito estas linhas e o leitor não as teria lido!

Em 1796 um médico inglês, Edward Jenner, reparou que as mulheres responsáveis pela ordenha das vacas expostas à varíola bovina (infecção muito mais suave que a varíola humana) se tornavam imunes à varíola humana, isto é, não contraíam a doença! Basicamente, Jenner conseguiu provar que a exposição dos seres humanos a variantes mais suaves de certas doenças graves (e muito frequentes na altura!) poderia levar as pessoas a tornarem-se imunes a essas mesmas doenças. E é isto mesmo que uma vacina é: a exposição das pessoas a uma forma «mais fraca» de uma determinada doença, impede a ocorrência da mesma doença, em toda a sua intensidade, no futuro. Agradeçamos a Edward Jenner.

Desde então, várias foram as doenças que conseguimos eliminar do nosso quotidiano. No entanto, e fruto de uma maior dispersão e menor controlo da informação actualmente (como acontece na Internet...), diversos grupos que se opõem à vacinação ganharam voz, espalhando desinformação acerca da segurança e eficácia das vacinas, levando muitas pessoas a questionar a pertinência das mesmas. O resultado? Não precisamos de olhar muito longe: podemos pensar na recente epidemia de sarampo que atingiu recentemente diversos países.

Escrevo este artigo no sentido de informar o leitor sobre a realidade da vacinação e, em poucas palavras, desmistificar algumas das dúvidas que rodeiam este tema.

Comecemos, portanto, pela questão de maior importância: serão as vacinas seguras? Sim, as vacinas são seguras. De facto, podemos dizer que as vacinas são dos produtos farmacêuticos com maior número de testes, pois têm sido administradas a uma grande porção da população dos países desenvolvidos logo desde a nascença. É normal que algumas vacinas provoquem alguma reacção semelhante a uma leve constipação (como febre, por exemplo), mas as verdadeiras complicações são raras. Aproveito desde já para desmentir uma noção internacionalmente popular de que as vacinas (nomeadamente a do sarampo) poderão causar autismo: isto é, de facto, uma mentira. Já foi amplamente estudado este tema e verificado (por múltiplas vezes) que o autismo não pode ser atribuído à vacinação.

Posto isto, e uma vez que sabemos que as vacinas são seguras, será que são necessárias? A resposta rápida é sim, as vacinas são necessárias. E agora uma questão mais complicada: que vacinas são necessárias? Bem, em Portugal todos os cidadãos têm o privilégio de serem abrangidos pelo nosso Programa Nacional de Vacinação - PNV (excelente, mesmo se comparado com os melhores), que oferece cobertura gratuita para 13 doenças. Todas as vacinas do PNV, que vai sendo melhorado periodicamente, são importantes, necessárias e…custam muito dinheiro, oferta generosa de todos os contribuintes… Existem, ainda, no mercado, vacinas que não fazem parte do PNV, umas mais pertinentes que outras. Informe-se com o seu médico de família.

Mas então, agora que sabemos que as vacinas são seguras e que as que fazem parte do PNV são necessárias, como é que o leitor encara o facto de haver pais que se negam a vacinar os filhos? É uma situação grave e irresponsável. Uma atitude destas, para além de prejudicar o próprio filho, pode pôr em causa a saúde de terceiros. E porquê? Porque para que as vacinas sejam realmente eficazes, é necessário que a maioria das pessoas esteja vacinada (cerca de 95% das pessoas, geralmente). Quando essa «imunidade de grupo» não acontece, a probabilidade de alguém não vacinado espalhar uma doença infecciosa aumenta grandemente, originando assim as epidemias sobre as quais temos ouvido falar recentemente na comunicação social como, por exemplo, o sarampo. As pessoas com sistemas de defesa mais fracos (as crianças muito jovens e as pessoas que fazem tratamentos muito debilitantes como quimioterapia, por exemplo) dependem exclusivamente da vacinação dos outros!

Espero que o leitor tenha ficado convencido da importância que a vacinação desempenha no nosso quotidiano: afinal de contas, muitos de nós não teríamos sobrevivido à infância sem elas! Cumpra o Programa Nacional de Vacinação e assegure que os seus filhos o cumprem também. Sempre que surjam dúvidas, não hesite em questionar o seu médico; ele terá todo o gosto em esclarecê-las.

António Pedro Cunha
Interno de Medicina Geral e Familiar da USF Ponte

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