Tradição da Missa do Galo desapareceu (quase) por completo
Em Caldas das Taipas e nas freguesias vizinhas desde 2007 e noutras ainda mais recuado no tempo, que já ninguém sai de casa perto da meia-noite para assistir à celebração do nascimento de Jesus Cristo.

José Agostinho Ribeiro, reitor na paróquia de Caldas das Taipas e também da freguesia de Barco, tem uma noção pouco precisa de quando celebrou a última Missa do Galo na vila termal. No entanto, aponta para o ano de 2007 essa última celebração que aconteceu pelas 23h. A hora consegue precisar, pois às 24h tinha início idêntica celebração em S. Lourenço, paróquia na altura sob a sua responsabilidade. Aqui, em S. Lourenço, ainda terá celebrado mais dois anos e depois também foi colocado um ponto final. Em Barco, também terá acontecido a última missa há oito anos.
A ideia mais comum de que as pessoas não se portariam muito bem nessas missas não é a razão do fim da Missa do Galo. José Agostinho Ribeiro refere que se foi verificando, nesses últimos anos, um decréscimo do número de fiéis participantes. As “comodidades que as pessoas têm agora em sua casa”, uma “noite onde se junta a família” e ainda o facto de os padres terem várias paróquias, tudo pesou na decisão.
Questionado sobre o facto de o “Menino Jesus que entregava as prendas na manhã de Natal” estar a ser substituído pelo “Pai Natal que entrega as prendas à meia-noite” também ter contribuído para a redução da celebração da Missa do Galo, o reitor de Caldas das Taipas reconhece que essa é uma realidade que entrou em força em muitos lares.
José Agostinho Ribeiro recorda que nesses anos em que se assistia ao fim da Missa do Galo ainda foi ponderada a possibilidade de se realizar uma celebração conjunta para todas as freguesias da proximidade, com uma rotatividade pelas igrejas das diferentes paróquias mais próximas. Não foi avante, mas poderá vir ainda a acontecer.
A Missa do Galo terá tido início no século V e generalizou-se pela Idade Média, celebrando-se sempre à meia-noite.
Para alguns autores, esta celebração natalícia terá surgido por se entender que teria sido o galo o primeiro animal a presenciar o nascimento de Jesus e anunciar essa boa nova através do seu canto, tendo cantado assim, pela primeira vez, às 24 horas, hora de nascimento de Jesus Cristo. Não será estranho o facto de nas igrejas mais antigas o galo estar representado em diversas pinturas esculturas ou nos seus campanários.
Outros autores, em menor número, apontam uma lenda existente na província de Toledo, Espanha, onde, antes de baterem as 12 badaladas da meia-noite do dia 24 de dezembro, os lavradores matavam um galo para recordar o episódio do galo que cantou quando Pedro negou Jesus.
Será também de referir que a designação de Missa do Galo surge somente nos países latinos, na restante comunidade cristã esta missa de 24 para 25 de dezembro é conhecida por missa da noite de Natal ou missa da Meia-noite.
De Prazins a Sande S. Martinho, passando por S. Clemente, Briteiros e Ponte/Vila Nova
Em Prazins (Sta Eufémia), o padre Manuel Faria já se encontra nesta paróquia há cerca de vinte anos e durante estas duas décadas nunca foi realizada a Missa do Galo. Estando agora em colaboração com o padre Agostinho com a paróquia de Barco admite que se possa estudar a possibilidade de realizar uma missa de todas estas comunidades. Em Longos, em conversa com o padre Cunha, agora aposentado, lembra-se que a missa em causa deixou de se realizar por não haver muitas pessoas que a celebravam e, por isso, tomou a decisão de terminar a Missa do Galo há mais de vinte anos.
Abel Faria é o padre de S. Martinho de Sande e refere que em 2006, ano em que assumiu a paróquia, já não se celebrava a Missa do Galo. É perentório ao dizer que essa noite deve ser dedicada à família e que não é a altura certa para os paroquianos se deslocarem à igreja. Sente que se tem acentuado a falta de espiritualidade nesta época natalícia e passou a ser mais um ritual a questão da Missa do Galo. Desde que assumiu a paróquia (atualmente com Longos e S. Lourenço) que os seus esforços religiosos foram mais canalizados para a Páscoa e está fora de questão, pelo menos enquanto estiver na paróquia, celebrar essa missa.
O cenário é idêntico por outras freguesias. Em S. Clemente de Sande, o padre Joaquim Guimarães, onde é pároco há mais de vinte anos, nunca celebrou nem se lembra de alguma vez ter acontecido na freguesia. Acrescenta que também não é tema que preocupe os seus paroquianos, pois ninguém lhe fala deste assunto.
Por sua vez, Marc Monteiro, padre de Ponte e Vila Nova de Sande desde outubro de 2017, manifesta-se disponível para trabalhar em prol dos seus paroquianos, nas mais diversas áreas da sua atuação. Há mais de vinte anos que não se realiza a Missa do Galo na freguesia e refere que essa celebração poderia ser eventualmente ser repensada se houvesse uma vontade clara dos paroquianos.
Em Briteiros (Sto Estêvão), por indicações de Maria Graça Silva, a Missa do Galo ainda foi celebrada em 2015.
Em Brito, apesar de várias tentativas de falar com o padre da paróquia, não foi possível estabelecer esse contato.
Na cidade de Guimarães a Missa do Galo na Igreja Nossa Senhora da Oliveira deixou de se realizar desde o ano passado. Monsenhor José Maria Carvalho referiu que essa missa terminou pela ausência de fiéis e pela dificuldade em juntar o grupo coral. Por sua vez, na igreja de S. Francisco será mantida essa tradição, com a celebração a ocorrer pelas 24h.
Texto publicado na edição de dezembro, do jornal Reflexo
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