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O Sr. Silva

Se o leitor é fumador ou tem família ou amigos que consomem tabaco, é altura de dizer basta. Nunca é tarde, senão repare no que consta, sobre o tema, no sítio da Organização Mundial da Saúde:

01 junho 2021 > 00:00

O Sr. Silva é um nome fictício de um acontecimento real. Ainda não andava na escola primária e já o conhecia. Sempre muito atarefado, cheio de pressa, resmungão e quase sempre com um chapéu e um cigarro na boca. Ia à tasca dos meus pais comprar tabaco, dois dedos de conversa e até logo que se faz tarde. Tinha “muitos” filhos. O “muitos” é se o comparamos com os tempos que atravessamos, em que ter três filhos já dá direito a ser considerada uma família numerosa.  Pois o Sr. Silva era de outro tempo, tinha mais que seis e o que constava na freguesia é que todos foram ensinados a trabalhar desde tenra idade… às vezes empurrados com a sola do sapato, que a vida não estava para calaceiros. O que é certo é que aquele hábito de trabalho se manteve e todos deram em homens e mulheres de sucesso, de fazer inveja a muito boa gente.

Continuei a crescer, tive a oportunidade de estudar, tornei-me médico e pouco depois o Sr. Silva passou a ser meu utente. As voltas que o mundo dá!

Aparecia de vez em quando à consulta, já com os dedos amarelecidos do fumo do tabaco e era recorrente o apelo a que deixasse de fumar, que podia acabar mal. Poucos anos se passaram até um dia chegar à consulta e dizer qua andava com rouquidão há cerca de 3 semanas. O diagnóstico de cancro da laringe foi feito rapidamente, como depressa fez quimioterapia e foi operado. Ficou a falar, com dificuldade, por um tubo que tinha colocado na garganta o qual tinha que tapar com o dedo para se fazer ouvir. Um dia, véspera de Natal, ainda me lembro, fui chamado à sua cabeceira, olhos resignados mas ainda apegados à vida.  A doença continuou a progredir, emagreceu, tornou-se uma sombra do que era e um dia partiu. Quanto me custou esta morte e muitas outras que foram atravessando a minha vida. Um médico traz, sempre, na sua bagagem, um saco cheio de sucessos e outro de frustrações, resultado da sua profissão. No caso do Sr. Silva e de outros, porque nunca tive a arte e o engenho necessários para que deixassem o tabaco, causa da sua morte. O problema é que são mortes evitáveis e, infelizmente, continuam a acontecer.

Se o leitor é fumador ou tem família ou amigos que consomem tabaco, é altura de dizer basta. Nunca é tarde, senão repare no que consta, sobre o tema, no sítio da Organização Mundial da Saúde:

“O tabaco causa a morte de 8 milhões de pessoas por ano e, neste tempo de Covid, os fumadores têm maior probabilidade de desenvolver doença mais grave. Deixar de fumar levanta múltiplos desafios, mas há muitas razões para que o faça e os benefícios são quase imediatos. Vinte minutos depois de parar de fumar, o ritmo do seu coração abranda. Doze hora depois, os níveis de monóxido de carbono no sangue desaparecem. Em 2-12 semanas, a sua circulação melhora e a função pulmonar aumenta. Dentro de 1-9 meses, a tosse e a respiração superficial diminuem. Dentro de 5-15 anos, o seu risco de enfarte/AVC é parecido com o do não fumador. Dentro de 10 anos, o risco de ter cancro do pulmão é de cerca de metade de um fumador e em 15 anos o risco de doença cardíaca é a mesma que um não fumador”.

Vá lá, se necessita de um empurrão, o C. Saúde das Taipas, tem ao seu dispor uma consulta de Cessação Tabágica. Fale com o seu médico, pois não tem que ser, obrigatoriamente, outro Sr. Silva.

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