Médicos trabalham mais horas mas a capacidade de resposta não agrada aos utentes
O atendimento prestado pelas USF, tem por estes dias sido posto em causa pelos utentes. As queixas têm sido uma realidade constante, o que leva o tema para a ordem do dia.

Inclusivamente a comissão política concelhia do Partido Social Democrata (PSD) de Guimarães enviou uma carta ao ACES Alto Ave (Agrupamento de Centros de Saúde do Alto Ave), demonstrando a sua preocupação com o atendimento que não está a ser feito aos utentes, tal como o Reflexo noticiou.
O nosso jornal tentou perceber como estão a funcionar as Unidades de Saúde Familiar locais, por forma a encontrar respostas e falou com Sílvia Neto Sousa, coordenadora da USF Ara de Trajano, nas Taipas, e também com Carina Antunes, coordenadora da USF Ronfe.
Médicos trabalham mais horas, mas as diretrizes não permitem o mesmo atendimento
Da conversa mantida com as duas coordenadoras sobra uma certeza: os médicos das USF estão a trabalhar mais horas nesta fase. “Estamos a trabalhar acima das nossas capacidades, seguindo as normas superiores. Estamos a ser o mais justos possível e é importante que as pessoas percebam que temos de fazer uma triagem para que seja possível atender quem realmente precisa”, afirma Sílvia Neto Sousa.
Uma ideia corroborada e exemplificada por Carina Antunes, que destaca que “antes cada médico fazia 32horas e neste momento faz 35horas assistenciais, ou seja, mais do que é supostos fazer”.
Contudo, apesar deste aumento da carga horária, a capacidade de reposta não está a ser a expectável por parte dos utentes. Ao invés das tradicionais consultas de quinze em quinze minutos, as consultas têm de ser feitas de meia em meia hora para permitir a higienização dos gabinetes. Questões como a capacidade das salas de espera e mesmo a necessidade de fazer consultas assistenciais aos casos de Covid-19 inviabilizam o mesmo fluxo de atendimento.
USF Ronfe “está a correr riscos” e já faz atendimento normal
Apesar dos constrangimentos, a USF Ronfe, pertencente à unidade funcional das Taipas do Aces Alto Ave, já retomou as consultas. “Estamos a trabalhar normalmente dentro do que a situação nos permite. Desde junho temos horários completos e até mais alargados. As pessoas pensam que não, porque não temos a acessibilidade que tínhamos antes, mas além de estar a tentar recuperar o que está para trás, quase um mês sem assistência presencial, estamos a dar consultas não só aos grupos de risco como consulta de saúde de adultos normal, mas em menor número”, aponta a Carina Antunes.
Tal decisão de retomar a atividade nestes moldes foi decidida pela equipa da USF Ronfe, por sua própria conta e risco, mesmo sem ter o material adequado.
“Não temos material de segurança para todos; não temos máscaras para todos, não temos batas para todos e não temos EPIS – equipamento de proteção individual de segurança para todos. Enquanto outras unidades decidiram de outra forma, por não ter material, nós decidimos correr riscos para aumentar as acessibilidades aos doentes”, assegura a coordenadora da USF Ronfe, uma USF que conta com sensivelmente 15mil utentes.
“Devem aguardar até a chamada ser atendida ou desligada automaticamente”
Também na USF Ara de Trajano as debilidades existem, mesmo com o corpo clínico a “trabalhar acima das capacidades”. A coordenadora desta USF taipense que tem sensivelmente 12mil utentes dá conta que o número de consultas teve de ser reduzido e, por esse facto, tem de haver uma triagem prévia por email ou telefone.
“Estamos numa luta constante, com a equipa a trabalhar no limite. Não podemos fazer como antigamente, servir todas as pessoas que precisam e muito menos repor o que não foi feito durante o confinamento”, sublinha a Sílvia Neto Sousa.
Admitindo que o volume de solicitações telefónicas aumentou, a coordenadora garante que está a ser feito o possível para dar resposta dentro das limitações existentes e deixa alguns conselhos. “Temos informado os utentes para ligar várias vezes ao dia e aguardar até a chamada ser atendida ou automaticamente desligada. Os utentes quando ligam para cá ficam de imediato em chamada, o que dá a atender que ninguém está a atender o telefone, mas na realidade o secretário clínico está com outra chamada. Isso cria ansiedade, porque as pessoas pensam que o telefone está a tocar e ninguém está a atender na unidade”, esclarece, apontando também o correio eletrónico como meio preferencial para contactar as USF.
O Reflexo tentou obter respostas por parte o ACES Alto Ave, nomeadamente o diretor José Novais de Carvalho, assim como de outras USF da região, mas sem sucesso até à publicação desta reportagem.
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