Identificação inequívoca do utente…
A consulta aconteceu na maior para ele, sem qualquer problema, ao contrário de mim, pobre médico, em que todos os procedimentos decorreram sob grande constrangimento.

O leitor, eventualmente, poderá perguntar-se o que quer dizer o título desta crónica. Significa que, nos serviços de saúde, os utentes têm que estar de tal maneira bem identificados, que não seja possível confundi-los com outros. Por exemplo, se o Sr. António Pereira fornecer apenas o seu nome, quando chega à unidade de saúde, o computador da secretaria debita mais uns quantos com o mesmo nome. Então terá, por exemplo, de dar a sua data de nascimento, ou até o nº de utente, idealmente, para esclarecer quem é quem. E é assim que, quando não sou o médico de família do utente que vou atender, e não o conheço, pergunto,, sempre, se estou a falar para o Sr. Asdrubal ou a Sra Vitória.
Vem isto a propósito de uma situação deveras curiosa e embaraçosa, com que me deparei há uns 2 a 3 anos atrás.
O Domingo estava a acabar, aconcheguei o estômago com algo que sobrou do almoço, preparei o saco e toca a dar à sola, como costumo dizer, para mais uma urgência noturna, das muitas às quais tenho vindo a perder a conta, e que têm vindo a preencher a minha vida. Era uma noite de Outono, que se sucedia a um dia solarengo, de temperatura agradável. Ao chegar ao hospital, atravesso a sala de espera que estava quase sem cadeiras livres e pensei, com os meus botões, que ia ser uma noite chata, daquelas de muito trabalho.
Depois de atender algumas crianças e graúdos, chamei mais um senhor. Devo esclarecer que demora menos de um minuto entre chamar o utente e ele aparecer à minha frente. Estava, assim, entretido a olhar para a lista do computador com o nome das pessoas que ainda faltavam atender, quando ouço à porta um “dá-me licença”? Levanto os olhos e “vejo” uma senhora, loura, à entrada do consultório, muito bem vestida, de tacão alto e toda maquilhada. E respondi “peço desculpa, mas deve haver confusão, pois chamei o Sr. Fulano de tal”, ao que “ela” respondeu, “sou eu”. Fiquei muito atrapalhado, nem sabia que dizer, mas disse um “entre”, balbuciado, que ele mal deve ter ouvido. Como diria o outro, e esta hein?
A consulta aconteceu na maior para ele, sem qualquer problema, ao contrário de mim, pobre médico, em que todos os procedimentos decorreram sob grande constrangimento.
E, afinal, tinha havido uma identificação correta do utente. Eu é que não estava nada preparado para a situação, que ainda não voltou a acontecer, mas que… pelo ar do tempo, poderá ocorrer mais vezes e eu lá terei que me adaptar e não ficar tão espantado.
E assim, caro leitor, não ache estranho se lhe perguntarem por outros dados, para além do seu nome, para uma correta identificação. Sugiro até que, quando perante um médico desconhecido, se apresente. Assim o clínico confirmará que o relatório que está a ler é efetivamente o seu.
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