Guimarães Ciclável 2050
A falta de rigor e compromisso para com a mobilidade foi bem patente na primeira fase da Rede Ciclável de Guimarães.
A bicicleta é tida como um importante instrumento de mobilidade nos países europeus mais desenvolvidos, e não sendo uma realidade recente, o facto é que existe uma tendência a nível global para o seu uso enquanto modo de transporte alternativo, que resulta, em boa parte, da evidente insustentabilidade ambiental da predominância do automóvel.
Sendo a que atualmente se destaca, esta motivação ambiental ligada ao consumo energético com efeitos no aquecimento global não deve ser tida como única, nem tão pouco como a mais importante, pois a mobilidade ciclável tem diversos benefícios com reflexo na qualidade de vida dos cidadãos. Sem dúvida que os benefícios na saúde que advém do exercício físico são relevantes, mas a meu ver, o maior benefício para a comunidade é quando a mobilidade em bicicleta permite libertar o espaço público, proporcionando a vivência das ruas de forma saudável e segura, sem gases, ruídos e atropelamentos.
Foi no enquadramento desta tendência, e na sequência de compromissos e diretivas europeias, que em 2012 surge o Plano de Promoção da Bicicleta e Outros Modos Suaves. Este plano tem como principal objetivo estratégico “Colocar a bicicleta e o “andar a pé” no centro da vida quotidiana dos cidadãos”. E é no seguimento deste, que em 2019 é publicada a Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável que tem como visão: “um país “orgulhosamente ativo”, onde pedalar é uma atividade segura e amplamente praticada, constituindo opção de mobilidade acessível e atrativa, maximizando benefícios para a saúde, economia e emprego, ambiente e cidadania”.
Dada esta estratégia, e de forma a garantir uma dimensão infraestrutural coerente e capaz de impulsionar o modo de transporte em bicicleta, o Fundo Ambiental elaborou o Portugal Ciclável 2030 (PC2030), que estabelece os critérios e prioridades de acesso a financiamento das iniciativas intermunicipais e municipais.
Afirmando que se deve “considerar apenas a infraestrutura que interessa às necessidades decorrentes das deslocações quotidianas”, o PC2030 distingue as ligações cicláveis a promover em três tipologias: interconexão, articulação e estruturação. O município de Guimarães surge apenas nas ciclovias de interconexão entre aglomerações relevantes, mas é considerado em 4 das 31 ligações previstas nessa tipologia: ligação de Guimarães a Vizela, Felgueiras e Fafe, e ainda a ligação das Taipas a Braga.
Existe, portanto, todo um contexto de promoção da mobilidade em bicicleta devidamente suportado por estratégias e financiamento, mas que a não ser implementado com rigor, deixará Guimarães num patamar inferior de mobilidade, comprometendo a competitividade do concelho e qualidade de vida dos seus cidadãos.
No entanto, a falta de rigor e compromisso para com a mobilidade foi bem patente na primeira fase da Rede Ciclável de Guimarães. É o que se pode concluir do conteúdo do Plano Urbano de Mobilidade Sustentável que considera que a “infraestrutura ciclável existente na cidade é, essencialmente, de caráter lúdico/recreativo não sendo capaz de conceder permeabilidade às diferentes áreas da cidade, nem permitir ligação à maioria dos polos geradores de viagens”.
Perante este investimento de milhões com acréscimo residual na mobilidade, o município justifica-se com o argumento de que a ciclovia não serve só para lazer, servindo também como uma pista de treino para os futuros utilizadores quotidianos da bicicleta. Dois ou três anos de treino na ciclovia para dominar a bicicleta, e ficam aptos para andar na cidade, orientados pelas pinturas na estrada.
Espero bem que isto mude! Tem de mudar, ou por este andar teremos Guimarães Ciclável lá para 2050.
Tópicos
Os conteúdos mais vistos
Hoje no Tempo de Jogo
